26/02/2010

Paisagem de mim



Já fui floresta tropical com milhares de plantas e animais sem fim.

Agora sou deserto sem água, sem verde, sem nada para além desta areia fina que seca, que mata.

Já fui trópico, fiz transpirar, beber, despir, apaixonar. Um lugar onde todos dançavam e colhiam alegria.

Agora sou os dois pólos num só, tenho gelo de Norte a Sul e não há aquecimento global por estas paisagens. Aqui os ursos são felizes, não estão em perigo de extinção e a neve não tem medo de derreter.

Já fui campo verdejante com flores de mil cores e borboletas que voavam livres, tinha cheiro a alegria e alecrim.

Agora sou cidade cinzenta de ruído, de poluição, e de um egoísmo que me assombra; repleta de inveja que me deprime.

Já fui rio sem barragens, sem pontes nem barreiras. Aqui ninguém precisava de me atravessar, bastava percorrerem-me por águas doces e soltas.

Agora sou lago estagnado, com águas paradas e esgotadas, sem nascente, sem corrente, sem ter onde desaguar.

Já fui um fim de tarde de verão, com sol e calor, fui mar, praia, areal sem fim.

Agora sou mais um dia cinzento de inverno, onde a neve é rainha e a chuva chega antes do amanhecer. Sou um mar congelado no tempo.

...

Hoje sou árvore sem folhas, campo sem flores, céu carregado de nuvens.

Esta é a minha paisagem...um lugar onde o sol não brilha mais.

19/02/2010

Nascer com o sol


O pôr do sol é magnífico...
Mas, o nascer do sol é a coisa mais sublime que eu alguma vez vi no reino da natureza.
É ver as sombras a tomarem forma de novo.
É ver o candeeiro do mundo a acender-se para todos.
É como nascer de novo sem ser preciso chorar...

O pôr do sol é aconchegante, romântico e nostalgico...
Mas, o nascer do sol dá-nos a esperança e o conforto de podermos começar tudo de novo.
É ver as espetativas da vida a florirem em forma de luz divina.
É ver as metas a serem traçadas e fazermos planos.
É como nascer de novo sem ser preciso morrer!

09/02/2010

Bunke*


Apetece-me acabar como o sol, no fim do dia.
Às vezes, cair como as pedras no precipício.
É o teu sorriso que me salva!

Queria eclipsar-me como a lua, na lua nova.
Às vezes, encolher-me como os ouriços cacheiros no medo.
O teu abraço é que me liberta!

Sinto a alma a rebentar como os balões, no fim da festa.
Às vezes a fé a afundar-se antes de adormecer.
É o teu olhar que me mostra a luz!

Tenho o corpo a desmoronar-se como os prédios em ruínas.
Às vezes, a cara molhada com solidão, como os velhos.
A tua boca é que me cala a dor!

Preciso de chorar como as nuvens, no fim do verão.
Às vezes, tremer como as crianças no escuro.
É a tua voz que me acalma!

Naufrágo todos os dias numa ilha, como ave perdida.
Às vezes, a saudade faz-me penar depois de acordar.
A tua força é que não me deixa desistir!


*abrigo subterrâneo de betão