Já fui floresta tropical com milhares de plantas e animais sem fim.
Agora sou deserto sem água, sem verde, sem nada para além desta areia fina que seca, que mata.
Já fui trópico, fiz transpirar, beber, despir, apaixonar. Um lugar onde todos dançavam e colhiam alegria.
Agora sou os dois pólos num só, tenho gelo de Norte a Sul e não há aquecimento global por estas paisagens. Aqui os ursos são felizes, não estão em perigo de extinção e a neve não tem medo de derreter.
Já fui campo verdejante com flores de mil cores e borboletas que voavam livres, tinha cheiro a alegria e alecrim.
Agora sou cidade cinzenta de ruído, de poluição, e de um egoísmo que me assombra; repleta de inveja que me deprime.
Já fui rio sem barragens, sem pontes nem barreiras. Aqui ninguém precisava de me atravessar, bastava percorrerem-me por águas doces e soltas.
Agora sou lago estagnado, com águas paradas e esgotadas, sem nascente, sem corrente, sem ter onde desaguar.
Já fui um fim de tarde de verão, com sol e calor, fui mar, praia, areal sem fim.
Agora sou mais um dia cinzento de inverno, onde a neve é rainha e a chuva chega antes do amanhecer. Sou um mar congelado no tempo.
...
Hoje sou árvore sem folhas, campo sem flores, céu carregado de nuvens.
Esta é a minha paisagem...um lugar onde o sol não brilha mais.