29/11/2009

Uma opção de vida


Não sou dona de nenhuma fortuna.
Não tenho uma saúde de ferro.
Não sou a inteligência em pessoa.
Não tenho amigos até lhes perder a conta.
Não sou uma Julieta com todas as curvas perfeitas.
Não tenho um Romeu sempre à minha espera.
Não sou famosa em nenhuma terra.
Não tenho muitos familiares de quem me possa orgulhar.
Não sou nenhuma milionária.
Não tenho a melhor personalidade de sempre.
Não sou...
Não tenho...
E depois? Tenho o suficiente para ser feliz.
Tenho o suficiente para me rir realmente quando me apetece e não por hipocrisia.
Uma simples opção de vida?
Para mim já é a única!

27/11/2009

De mão dada


A natureza infiltra-se em mim, e eu já não consigo viver sem ela.
É Deus a acariciar-me...
E eu deixo, e gosto!
Tenho sede de trilhos ainda não percorridos; agora não tenho medo, vou de mão dada.
O sol aquece-me por dentro: Ele a sorrir.
O vento muda-me de direcção: Ele a chamar-me.
O tempo não pára: e eu corro para Ti!

26/11/2009

Água pelos joelhos


A chuva chegou e trouxe com ela o inverno.
Trouxe também água, lama, problemas, inferno!
As pessoas arregaçam as calças e põem pés e mãos à obra...
A cidade tem água pelos joelhos; as casas ficam embriagadas de tanto a beberem.
Um pingo insignificante de gente, tenta apanhar as pingas de mais um temporal, de mais uma cheia.
Cheios de roupa ensopada e de alma desbotada, empacotam a esperança em caixotes molhados.
Com almas frágeis, assustadas pelo trabalho, metem os pés no lamaçal sem usarem galochas.
Ouvem-se vozes de lamentação, sente-se um odor a enxurro, a dissipação.
Vê-se chegar gente encharcada de convenções até à medula. São colarinhos brancos. Trazem uma indignação fingida. Vêem mais engalanados que os barcos dos pescadores. Estes, recebem-nos com um sorriso molhado e um coração arrebentado.
Prometem esperança e futuro para um local, onde a estabilidade que se vê é só de podridão.
Ouvem-se homens dizer:-"Tudo naufragado!"
Enrodilhados, queimados, com calos nas mãos e nas costas, sentam-se no parapeito da janela com água pelos joelhos.
Têm o coração roto e demasiadamente pesado de agonia para se manterem de pé.
No segundo andar, água fria roça os calcanhares das mulheres, e água quente roça o rosto de quem não quer deixar o lar.
Ouvem-se sirenes, e o choro de uma criança que não sabe do barco que o pai lhe deu:."Talvez esteja no rio meu filho! Ou até no mar!"
Chegam os embaixadores da amizade; os verdadeiros dadores de esperança. Comprometem a vida mas não prometem nada! Como os outros...
Fazem o que têm de fazer: ajudar, servir e até alegrar um menino que perdeu um barco.
Sentem-se maiores por o ajudarem a crescer, e vão-se embora, embora saibam que a tarefa deles não acaba ali.
Cabe-lhes uma vida cheia pela frente. Talvez uma vida com um final precoce, como o do barco, por causa dos rios, dos fogos, dos Homens.

Mas uma vida cheia da vida!

25/11/2009

Saco da Amizade



Meti algumas lágrimas num saco cheio de mar, pensando que ninguém as ia encontrar.
Depois descobri que aquele saco era apenas um refúgio de muitas outras lágrimas reprimidas por mim, por ti...
Resolvi libertá-las e chorá-las uma por uma.
Chorei as minhas lágrimas, chorei as tuas.
A minha cara ficou mais limpa. Tu ficás-te aliviada.

O teu saco da lágrimas ficou mais leve e agora já o podemos carregar sozinhas, sem medo de deixar cair algumas pelo caminho.
Pois as que caírem vão lavar as pedras da calçada que nos une e que às vezes nós sujamos.