15/03/2010

Caminhando


Enquanto caminho, não tenho tempo para cochichos nem para maçãs doces.
O milho dos campos está maduro e os girassóis já estão abertos.
Ficaram para trás as margaridas e as cerejas mas ainda trago o cheiro do alecrim e das rosas.
Vem por aqui...
Vem comigo, por este lugar onde a dor vai desaparecendo na sombra de cada árvore, e onde o rio vai lavando a saudade que trazemos nos pés.
Não há tempo para sestas nem para pão cozido.
A tenda já está desmontada e os cordões das botas, apertados.
É tempo de ir...
Com os olhos postos no caminho, os fracassos, as desilusões, e as frustrações não fazem parte da paisagem.
De mochila às costas, os impossíveis ficam para trás.
São pesados de mais e a caminhada ainda é longa para carregar-mos pedras inúteis.
Se queres seguir comigo, trás só o essencial...
Chocolate, protetor solar, um sorriso que dure e um amor que não pese.
O resto é o resto: dispensável!
Apressa-te lentamente porque o dia está para nascer e não queremos perder o milagre da mãe natureza a dar à luz.
Vamos por trilhos que não foram calcados por mais ninguém, mas que os nossos pés já conhecem melhor que os olhos. Só temos que ensiná-los ao nosso coração.
Quero mostrar-te um lugar que me dá tudo o que eu não tenho: paz, calma, segurança.
Mas primeiro precisamos de subir para ficarmos mais perto do céu.
É urgente termos vistas largas para vermos o horizonte até ao infinito.
Chegamos...
No cimo desta montanha, vemos um tapete azul sem fim.
É este o meu lugar especial.
Se gostares, podemos demorar-nos.
Montar tenda, acender uma fogueira, porque a manhã ainda tarda e o corpo pede calor.